Já perdi o brilho. Meu olhar está baço.
Não entendo o que sinto e tenho receio do meu sentir.
As palavras jorram no pensamento, mas não fluem da caneta.
Quando se é abandonado, não pode ser o mesmo que quando se
perde alguém por morte. Não pode! O que sinto, não faz sentido.
Perder alguém que é a continuação de nós, é estranho, é duro
e tira-nos a noite, porém, queima a pele. Não deixa que o pensamento se prenda
à perda.
O que sinto, é estranho. Não entendo. Não faz sentido.
Não se é rejeitado por um filho e não se consegue sentir
nada. A não ser que, a saudade do cheiro, da fala e dos passos, do olhar e do
toque, se tenham entranhado e tornado parte de mim de tal jeito, que não sinto.
Sinto-me inebriada, anestesiada.
Não defino meu sentir. Só perdida que me vejo.
Falho em tudo. Falhei em tudo. Mas, não sei como falhei.
Pensei, sonhei e quis dar-te a vida.
Dei o que podia dar, acarinhei mais do que alguma vez fui
acarinhada. Chorei, ralhei, deixei de comer e vestir para te dar. E quando a
uma simples pergunta de “quando vens”, a resposta é “não quero ir”, dói. Não o
mereço, tenho a certeza disso.
Não. Não falhei. Algo falho, mas não eu.
E por não o merecer, nem por merecer ser mal tratada e
rejeitada por ti, quando na minha presença, prefiro não ver, não falar, não
pensar.
A porta está fechada, os brinquedos e as tuas coisas, todos
lá dentro. E foste. E deixaste as coisas que acarinhavas e gostavas, para trás.
E lá estão, à espera do dia que as voltes a abraçar.
Elas, e eu.
Não consigo desenhar mais palavras. Os meus dedos não
conseguem fazer mais contornos de sentimentos.
Sinto-me vazia. Sem sentidos e sem sentir.
Mas não posso!
Tenho de lutar e manter-me viva. Afinal,
também a tua "metade"de sangue, aquela que também tu deixaste para trás, precisa
de mim. E agora, mais que nunca.
É estranho o vazio de sentimentos e a alienação que consigo
ter, de tudo isto. De toda a situação.
O que sinto, é estranho. Não entendo. Não faz sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário